sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Mega Post: Jambolada 2007, Parte II.

Ilesos, aqueles que chegaram ao segundo dia da Jambolada ainda não sabiam o que lhe esperavam, e havia ainda um batalhão de bandas para “acariciar” os ouvidos de um público afoito por novidades, curiosidades e no fim de tudo, Nação Zumbi.
A primeira banda do segundo dia, também de Uberlândia, o Umbando e o Fim da Quadrilha mostrou um som miscigenado, com fortes influências do mangue beat, samba rock e ritmos africanos. Para quem já conhecia a banda, pode observar que a incursão dos metais na banda (saxofone e flauta transversal) e do teclado, deu uma nova cara ao som dos meninos, preenchendo mais a musicalidade dos arranjos, tornando ainda mais potente a fusão dos sonora propiciada pela banda.

Corações, surf e os portões do inferno abertos.


Uma das inúmeras grandes surpresas se deu já na segunda apresentação da noite. The Dead Lover’s Twist Heart [foto abaixo] mostrou um som muito maduro, apesar deste ter sido o primeiro grande festival que a banda participava. Com fortes influências de bandas setentistas, uma pegada indie e em alguns momentos a clara mescla e o flerte com o folk, a banda mostrou canções inteligentes (e em inglês, bem utilizado, diga-se de passagem), arranjos bem sincronizados, e em alguns momentos uma música que lembrava ícones contemporâneos como Franz Ferdinand, ou famosos obscuros do passado, como o mítico Daniel Johnston. Sem dúvida uma das grandes boas revelações do festival. Em seguida Super Hi-Fi abriu os portões do inferno: um som pesado, com letras oras furiosas cantadas pelo vocalista Don Gralha, e em muitos momentos canções debochadíssimas, e com uma roupagem característica dos medalhões do mundo do metal: Motorhead, Metallica, Misfits, White Zombie e Black Sabbath (que, aliás, teve um cover dos malucos aí). Uma prova que power trio ainda é uma boa pedida, e faz muito barulho!

O Estrume’n’tal, de Belo Horizonte confirmou o que ao longo do tempo as pessoas vinham comentando e pode ser concretizado em ótima performance da banda. A Surf Music têm um cenário forte em minas, mesmo não havendo praia! O som extremamente refinado, e os integrantes da banda materializaram um pouco do trabalho que eles já vêm fazendo em BH, pois eles também organizam festivais na capital mineira. Talvez um pouco mais de gingado de surfistas agitasse um pouco mais a apresentação. Mas nada que viesse a comprometer o som com uma ótima qualidade técnica.


Supers, supers, deboches e amores tecnológicos.

Como de costume, a garotada do Dead Smurfs tocaram da forma debochada e escancarada de sempre, com letras engraçadas, e levou ao público ao delírio. Esse carisma ao longo do tempo se transformou em ponto forte desses Smurfs, sempre animados e críticos a tudo e a todos. Segunda grande surpresa da noite: Astronautas [foto abaixo]. Formado no Recife em 2001, é considerado um dos mais atuantes renomados grupos da cena independente brasileira da atualidade, e vêm utilizando as mais variadas sonoridades e informações em seu trabalho.Suas influências: muitas. ROCK + tecnologia + ficção científica...Com um som forte e com uma reflexão acirrada sobre um mundo cada vez mais “tecnológico” na sua pior expressão, o trio espantou pela qualidade das músicas, que mixadas com sons eletrônicos conseguiam criar uma atmosfera futurista, com rastros de caos e decadência. A banda não deixou nem um pouco a desejar, pois substituiu na última hora Mechanics, de GO. E mais uma vez Uberlândia saiu ganhando.

SuperGalo, de Brasília, deixou a desejar. Com um som pouco expressivo, e muitas vezes mais embasados pela figura de Fred (ex baterista dos Raimundos), o grupo desagradou a mioria das pessoas que estavam presentes, e que esperavam um som mais pesado e com uma outra proposta musical. Ainda que bem acabado, a banda não foge a risca das novas bandas que estão surgindo por ai. Fica a sensação que falta um “Q” de personalidade, o que não aconteceria com os Superguidis, do RS. Seria fácil enquadrar a banda como mais um rebento da nova cena musical gaúcha, que encontraram no indie um grande filão a ser explorado. Letras com uma tônica inocentes e relacionadas com o cotidiano dão um ar às vezes de uma inocência pueril aos meninos da banda, mas que se desconstrói quando os rifs de guitarra são executados, e demonstram uma afinidade muito grande entre os músicos. Por essa e outras, talvez o tempo para cada banda tocar deveria ser repensado. Modéstia a parte esse neurônio que vos fala achou q algumas bandas mereciam um espaço maior......


Ecos de Chico Science ainda ecoam...



Não final da noite sobraram duas boas apresentações: Antena Buriti [foto abaixo], que aposta na musicalidade do mangue beat, demonstrou um amadurecimento que pode ser observado ao longo do tempo de existência da banda. Ainda sob as máscaras, a crítica social paira como ponto forte da banda. Os projetos paralelos como o sistema de rádio ambulante, dos quais são incentivadores e participadores assíduos, são iniciativas que devem ser seguidas e trabalhadas, como forma eficaz de conscientizar a sociedade também sob a perspectiva da música.

Mais de duas horas da madrugada, todo mundo cansado, mas ainda restava Fôlego para acompanhar o Nação Zumbi, que não decepcionou a exemplo da outra grande atração do evento. Sempre performáticos, a banda agradou a todos aos presentes, e o conjunto de percussão ecoava fortemente pelos espaços do Acrópole. Vibrante, impactante pela intensidade do som, e reflexivo pela carga das letras que falam de um contraste social tão forte no Brasil. E falam de uma forma sincera, de quem viu em sua própria terra essa mazela, transmutada em um aglomerado de pessoas necessitadas. O que chama mais atenção e a necessidade recorrente do apego “sonoro” a um passado que remeta sempre à imagem de Science. É inevitável a execução de músicas consagradas do grupo, mas a sensação de que mesmo os novos trabalhos, e sem o antigo mentor ainda carregam uma musicalidade estagnada, e deixa a sensação de cristalização da proposta mangue beat. A reciclagem e a ressignificação, de propostas soa bem em todos os sentidos, e até nomes consagrados já o fizeram, como por exemplo, Lenine, Paulinho Moska, Arrigo Barnabé e o rabugento Tom Zé.


[fotografias: Thiago Carvalho]

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